Na exposição Players de Maia Horta, em Lisboa, o que se experimenta é uma espécie de antropologia estética.
Quando se entra na galeria somos surpreendidos por cinco telas de grande dimensão, com rostos de formato homogéneo. Na parede seguinte encontram-se monotopias em papel – pinturas feitas sobre matrizes de vidro – onde os mais entendidos no “desporto-rei” reconhecerão as faces de jogadores célebres, daqueles que as crianças trocavam em cromos, nas ruas e recreios das escolas. Percebemos, depois, que os rostos anteriores são de matraquilhos.
O futebol é hoje um fenómeno cultural e social omnipresente, saturado de significações contraditórias e nem sempre lisonjeiras. O talento atlético dos jogadores, tende a ficar submerso pelas sombras da idolatria, dos negócios obscuros e das manipulações de toda a ordem.
Contudo, na Exposição de Maia Horta, o que se experimenta é uma espécie de antropologia estética. As cabeças de “matrecos” foram fotografadas pela artista, ao longo de anos e nos mais diversos lugares. A paixão emocional que o futebol acende espelha-se sem mediações nos jogos de matraquilhos, onde apenas se jogam emoções puras.
Maia Horta revela-nos a metamorfose do uso e da duração nesses bonecos metálicos. À partida idênticos, ganharam um rosto único e uma individualidade inconfundível através da erosão do uso, dos golpes do tempo, das feridas em campo, saradas e reabertas. Aí percebemos, porque nos inquietam esses olhares sofridos que nos recebem. Eles, tal como nós, são moldados pelas forças do destino e pela resiliência que nos prende ao viver.
A Artista
Maia Horta confirma no percurso da sua vida e respetivas escolhas a antiga tese filosófica de que o essencial do mundo cabe inteiro em cada uma das suas partes. Cosmopolita sem alardes, é também profundamente fiel a Lisboa e às suas raízes luso-germânicas. Nasce em Díli, Timor Leste, daí partindo para uma formação académica, poliglota e plural. Em 2010 terminou o Mestrado de Pintura da Faculdade de Belas Artes-Universidade de Lisboa. Concluiu a Licenciatura em Belas Artes e Literaturas Comparadas na University of Maryland, EUA (1997). Estudou na Alemanha. Primeiro em Kassel na GHK (1995/96), depois em Berlim na Weißenseekunsthochschule.
De um percurso já muito vasto destacam-se as seguintes exposições Individuais: 2016 “Instapaintings”, Verso Branco, Lisboa, em 2015 “GOING BANANAS” Galeria Arte Graça, Lisboa; 2014 “1974: Timor” Galeria Abraço; em 2013 “POSH LUST” , Round the corner, Lisboa; e em 2012 “ART LOVERS” Soapbox Gallery, Brooklyn, N.Y.
Players
Até 6 de junho
Casa Atelier Vieira da Silva,
Alto de S. Francisco, 1-3,
1250-028 Lisboa.
Quarta a Dom., das 10h às 18h
Entrada Gratuita
Fotos © Filipe Amorim / Global Imagens
Publicado no Diário de Notícias de 31 de Maio de 2021