A 26.ª conferência global sobre alterações climáticas (COP 26) decorrerá em Glasgow entre 31 de Outubro e 12 de Novembro deste ano. A situação internacional, quando o Planeta começa a afastar-se nas áreas mais vacinadas do auge pandémico, não é portadora de grandes promessas. A Covid 19 provocou uma diminuição nas emissões de gases de estufa e noutros impactos ambientais negativos. Mas isso foi passageiro, como quase tudo o que resulta de conjunturas exteriores à deliberação da vontade colectiva. O martelo pneumático do crescimento voltou ao trabalho na loja de porcelanas planetária. Com a agravante de que o carvão, o mais perigoso combustível fóssil, aparece como o grande vencedor. Não apenas nos países em vias de desenvolvimento, mas na própria Europa. O Reino Unido aumentou o consumo de carvão, e o mesmo fazem outros países. A falta de vento para mover as turbinas eólicas do Mar do Norte, entre outros factores, está não só a fazer escalar o preço da electricidade, como leva a recorrer a fontes primárias que a retórica apontava para uma relativamente breve exclusão. Não vislumbro qualquer hipótese de avanço em Glasgow, pois o trabalho de caso continua por fazer. Oxalá os países tenham a prudência de não levantarem muita espuma, quando não existe nada de novo no horizonte. Em Portugal assinei, com quase três centenas de colegas universitários, um Manifesto-Petição que pretende levar o Parlamento a introduzir na nossa novel Lei do Clima a definição do mesmo como “Património Comum da Humanidade”. Se tal acontecer, Portugal seria o primeiro país a ultrapassar a definição vazia e absurda, que está vertida no presente ordenamento jurídico internacional, que faz do clima uma mera e descolorida “preocupação comum”…
A história humana parece estar mergulhada num determinismo trágico, sem talento e estamina vital para evitar a rota de colisão em que estamos embarcados. O espectáculo da nossa impotência colectiva, bem como o contraste entre as declarações e os actos de líderes políticos e económicos, vai aumentando a acidez das almas, sobretudo das mais jovens. É isso que fica claro ao lermos um recentíssimo estudo de opinião sobre as altitudes perante as alterações climáticas, realizado em 10 países, com a coordenação da Universidade britânica de Bath, envolvendo outras instituições académicas, nomeadamente da Finlândia e dos EUA. Foram escolhidos 10 países, divididos em 2 categorias: o Norte Global (Reino Unido, Finlândia, França, EUA, Austrália e Portugal) e o Sul Global (Brasil, Índia, Filipinas e Nigéria). O estudo decorreu entre 18 de Maio e 7 de Junho de 2021, tendo obtido respostas de 10 000 jovens entre os 16 e os 25 anos (51% rapazes e 49% raparigas). As diferenças, curiosamente, não permitem traçar uma barreira Norte/Sul. O pessimismo é transversal: 60% dos jovens está muito preocupada; 75% considera o futuro “assustador” (81% em Portugal); 50% considera que a humanidade está “condenada” (P: 62%); 40% hesita em ter filhos (P: 37%); 30% considera-se “indiferente”. A desconfiança na boa-fé e seriedade do desempenho dos governos é também desoladoramente partilhada pelos respondentes. Um jovem de 16 anos disse algo que vai ao centro do problema: “Para os jovens é diferente, para nós a destruição do planeta é pessoal”. Ernst Bloch (1885-1977) mostrou bem como a “esperança” faz parte desse núcleo essencial que é a “consciência antecipativa”. Quem destrói a esperança destrói os alicerces da própria humanidade.
Viriato Soromenho-Marques
Publicado no Diário de Notícias, edição de 18 de Setembro de 2021, p. 9