Filosofia da História (Licenciatura)

Disciplina

Filosofia da História

Ano lectivo 2017-2018, 2.º semestre

(22 de Fevereiro a 1 de Junho de 2018)

 

Horário

Quinta-feira: 14 00-16 00h e Sexta-feira: 10 00 às 12 00h

 

Tema Geral

As categorias de Progresso e Decadência nas Filosofias da História da Modernidade.

Resumo

O objectivo central desta disciplina consiste no articular de um percurso panorâmico e crítico sobre as grandes linhas de força das filosofias modernas e contemporâneas da História, desde as raízes do século das Luzes às diferentes representações de decadência e colapso, inerentes à era da crise global do ambiente em que a nossa civilização se encontra mergulhada.

A disciplina pretende fornecer aos discentes os instrumentos categoriais que identificam as diferentes modalidades de reflexão filosófica sobre a história. Será analisado o lugar central das ideias de finalidade, progresso, decadência, colapso, bem como os diferentes níveis de sujeitos históricos: a ideia, a razão, o direito, a moralidade, a luta económica e social, a tecnologia, o ambiente, na dupla dimensão de abertura e limite.

 

1) Introdução geral. A Génese da Filosofia da História a partir da crise da metafísica ocidental em torno dos debates sobre a teodiceia e o terramoto de Lisboa.

 

Textos:

 

  1. Blaise Pascal, “Préface sur le Traité du Vide” [1647], Oeuvres Complètes, Paris, Seuil, 1980, pp. 230-232.
  2. Leibniz, Essais de Théodicée, Die philosophischen Schriften (reimpressão da edição de Berlim – 1875), ed. C.J. Gerhardt, Hildesheim/New York, George Olms, 1975, volume VI.
  3. Voltaire, “Poème sur le désastre de Lisbonne”, Mélanges, Paris, Gallimard, 1961, pp. 301-309.
  4. Voltaire, Candide ou l’optimisme, Romans et Contes, Paris, Garnier, 1960, pp. 137-221.
  5. -J. Rousseau, “Lettre de J.J. Rousseau a M. de Voltaire”, Oeuvres Complètes, ed. B. Gagnebin e M. Raymond, Paris, Gallimard, vol. IV, pp. 1059-1075.
  6. Soromenho-Marques, “Da crise da Teodiceia à Filosofia da História”, Razão e Progresso na Filosofia de Kant, Lisboa, Edições Colibri, 1998, pp. 147-360.

 

2) A eclosão do pensamento utópico na alvorada e consolidação da modernidade. Da ética à técnica: Thomas Hobbes, Tommaso Campanella e Francis Bacon.

 

Textos:

 

  1. Thomas More, Utopia [1516], Introduction by Richard Marius, Dent: London and Melbourne, Everyman’s Library, 1988.
  2. Francis Bacon, New Atlantis and the Great Instauration, ed. Jerry Weinberger, Arlington Heights, Illinois, Harlan Davidson Inc., 1989.
  3. Tommaso Campanella, A Cidade do Sol, tradução do italiano por Álvaro Ribeiro, Lisboa, Guimarães Editores, 1966, 160 pp.
  1. Soromenho-Marques, “Devorar o nosso futuro”, Ler, n.º 48, Inverno 2000, pp. 70-74.
  2. Frank E. Manuel e Fritzie P. Manuel, Utopian Thought in the Western World, Oxford, Basil Blackwell, 1979.

 

3) Filosofias da História na Era das Luzes e seu crepúsculo. Visões, limites e críticas do progresso. Herder, Kant, Condorcet e Hegel.

 

Textos:

 

  1. Herder, Também uma Filosofia da História para a Formação da Humanidade [1774], tradução, notas e posfácio de José M. Justo, Lisboa, Edições Antígona, 1995 [Recomenda-se a leitura dos textos seleccionados na obra de Patrick Gardiner (1974), pp. 41-59].
  2. Kant, Idee zu einer allgemeinen Geschichte in weltbürgerlicher Absicht (Ak. Vol VIII). Tradução portuguesa: Patrick Gardiner (1974), pp. 27-41.
  3. Condorcet, Esquisse d’un tableau historique des progrès de l’esprit humain, Paris, Vrin, 1970. Ver Patrick Gardiner (1974), pp. 60-70.
  4. W.F. Hegel, Vorlesungen über die Philosophie der Gescichte, Werke, Band 12, Frankfurt am Main, Suhrkamp, 1986. Tradução portuguesa parcial: Patrick Gardiner (1974), pp. 73-88.

 

 

4) Progresso, ciência, emancipação social e niilismo nos séculos XIX e XX. O alerta para a perda da dimensão individual e a fragilidade da Natureza. Auguste Comte, Marx, Nietzsche, e H.D. Thoreau.

 

Textos:

 

  1. Auguste Comte, Reorganizar a Sociedade, prefácio e tradução de Álvaro Ribeiro, Lisboa, Guimarães, 1977. Ver Patrick Gardiner (1974), pp. 88-103.
  2. Karl Marx, “Prefácio «Para a Crítica para a Crítica da Economia Política»”, tradução de José Barata-Moura et alia, Marx-Engels Obras Escolhidas em três Tomos, Lisboa, Edições Avante, 1982, vol. I, pp. 529-533. Ver também Patrick Gardiner (1974), pp. 153-169.
  3. Karl Marx. “A Dominação Britânica na Índia”, Marx-Engels. Obras Escolhidas em Três Tomos, Lisboa, Edições “Avante!”, 1982, pp. 513-525.
  4. Friedrich Engels, “Karl Marx «Para a Crítica da Economia Política”, tradução de José Barata-Moura et alia, Marx-Engels Obras Escolhidas em três Tomos, Lisboa, Edições Avante, 1982, vol. I, pp. 534-543.
  5. Friedrich Nietzsche, “Da Utilidade e dos Inconvenientes da História para a Vida”, Considerações Intempestivas, tradução de Lemos de Azevedo, Lisboa, Editorial Presença, 1976, pp. 101-210. O docente preparou uma pequena antologia de textos de Nietzsche que poderão servir para apresentações de alunos nas aulas.
  6. Henry David Thoreau, Walden ou a Vida nos Bosques, tradução Astrid Cabral, Lisboa, Antígona, 2009.
  7. Soromenho-Marques, “Pensar a Vida. Notas para um Diálogo entre Kant e Darwin”, Was ist der Mensch/Que é o Homem? Antropologia, Estética e Teleologia em Kant, coordenação de Leonel Ribeiro dos Santos, Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2010, pp. 245-258.
  8. Aldo Leopold, “The Land Ethic”, A Sand County Almanac [1949), Oxford, Oxford University Press, Inc., 1977, pp. 201-226.
  1. Ulrich Beck, “Politics of Risk Society”, The Politics of Risk Society, Jane Franklin (ed.), Cambridge, Polity Press/IPPR, 1998, pp. 9-22.
  2. Hermínio Martins, “Tecnologia, Modernidade e Política”, Hegel, Texas – e outros ensaios de teoria social, Lisboa, Século XXI, pp. 199-245.
  3. Vitorino Nemésio, Era do Átomo. Crise do Homem, Obras Completas, Lisboa, INCM, 2003, volume XXII.

 

5) Hipóteses de decadência. Visões cíclicas da história. Quental, Spengler, Toynbee.

 

  1. Giambattista Vico, Ciência Nova, tradução de Jorge Vaz de Carvalho, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2005. [Para as aulas práticas poderão ser usados os excertos da obra acima indicada de Vico presente na seguinte obra: Patrick Gardiner, Teorias da História, tradução e prefácio de Vítor Matos e Sá, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1974, pp. 11-27].
  2. Antero de Quental, Causas da Decadência dos Povos Peninsulares (1971). http://www.arqnet.pt/portal/discursos/maio_julho01.html.
  3. Oswald Spengler, Der Untergand des Abendlandes. Umrisse einer Morphologie der Weltgeschichte, Munique, C.H.Beck, 1980.Tradução portuguesa parcial: Patrick Gardiner, Teorias da História, tradução e prefácio de Vítor Matos e Sá, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1974, pp. 230-244].
  4. Arnold Toynbee, A Study on History e outros textos excertos contidos na obra: Patrick Gardiner, Teorias da História, tradução e prefácio de Vítor Matos e Sá, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1974, pp. 244-256.
  1. Hannah Arendt, “A Conquista do Espaço e a Dimensão do Homem”, Entre o Passado e o Futuro. Oito Exercícios sobre o Pensamento Político, tradução de José Miguel Silva, Lisboa, Relógio D’Água, 2006, pp.275-289.
  2. Konrad Lorenz, Os Oito Pecados Mortais da Civilização, tradução Artur Morão, Lisboa, Litoral Edições, 1992, pp.19-30.
  1. V. Soromenho-Marques, “Temperança e Crise Global do Ambiente”, Metamorfoses. Entre o Colapso e o Desenvolvimento Sustentável, Mem Martins, Publicações Europa-América, 2005, pp. 97-107.

 

6) O que resta do progresso na Era da Crise Global do Ambiente?

 

Textos:

 

  1. Lynn White jr., “The Historical Roots of our Ecological Crisis”, Science, nº 155, 1967, pp. 1203-1207.
  2. Kenneth E. Boulding, “The Economics of Coming Spaceship Earth” [1966], Toward a Steady-State Economy, Herman E. Daly (ed.), San Francisco, 1973.
  3. Donella H. Meadows et al., Os Limites do Crescimento, tradução da CNA, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1973.
  4. Soromenho-Marques, “Economia, Política e Desenvolvimento Sustentável. Os Desafios da Crise Global do Ambiente”, Educação, Sociedade & Cultura, n.º21, 2003, pp. 9
  1. Peter Sloterdijk, Regeln für den Menschenpark. Ein Antwortschreiben zu Heideggers Brief über den Humanismus, Frankfurt am Main, Suhrkamp Verlag, 1999 (existe uma tradução brasileira na editorial Estação liberdade, São Paulo, 2000).
  1. Michael Boulter, « Humans and the Future », Evolution and the End of Man, London, Fourth Estate, 2002, pp. 177-193.
  2. Edward O. Wilson, The Future of Life, London, Little, Brown, 2002, pp. XI-XXIV.
  1. Gregory Stock, Redesigning Humans. Choosing Our Children’s Genes, Londres, Profile Books, 2002, pp.192-201.
  2. V. Soromenho-Marques, “Crise Ambiental e Condição Humana”, Metamorfoses. Entre o Colapso e o Desenvolvimento Sustentável, Mem Martins, Publicações Europa-América, 2005, pp. 171-181.
  1. Soromenho-Marques, “A bioética na encruzilhada”, Contributos para a Bioética em Portugal, ed. João Ribeiro da Silva, António Barbosa e Fernando Martins Vale, Lisboa, Centro de Bioética da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa – Edições Cosmos, 2002, pp. 181-188.
  2. Jared Diamond, Como as Sociedades Escolhem o Fracasso ou o Sucesso, tradução de Alexandre Raposo, Rio de Janeiro, Editora Record, 2007.

 

Nota sobre o funcionamento das aulas:

A exposição teórica do docente será apoiada pela projecção e comentário de slides em powerpoint. Nalguns casos poderão ser exibidos vídeos alusivos à temática em causa. Os textos de apoio acima mencionados, distribuídos previamente aos alunos, serão a base para apresentações, discussões e trabalhos de grupo. Esta participação activa dos alunos constitui, simultaneamente, um dos elementos fundamentais da dinâmica das aulas e um elemento decisivo da avaliação.

 

 

Bibliografia de interesse gera para o conjunto do curso

 

  1. Viriato Soromenho-Marques, Direitos Humanos e Revolução, Lisboa, Edições Colibri, 1991.
  2. Viriato Soromenho-Marques, Razão e Progresso na Filosofia de Kant, Lisboa, Edições Colibri, 1998.
  3. Hannah Arendt, “O Conceito de História”, Entre o Passado e o Futuro. Oito Exercícios sobre o Pensamento Político, tradução de José Miguel Silva, Lisboa, Relógio D’Água, 2006, pp. 55-103.
  4. Hannah Arendt, “A Conquista do Espaço e a Dimensão do Homem“, Entre o Passado e o Futuro. Oito Exercícios sobre o Pensamento Político, tradução de José Miguel Silva, Lisboa, Relógio D’Água, 2006, pp. 275-289.
  5. Robert Heilbroner, Visions of the Future, New York and Oxford, Oxford University Press, 1995.
  6. Peter Slöterdijk, No mesmo Barco. Ensaio sobre a Hiperpolítica, tradução de Hélder Lourenço, Lisboa, Edições Século XXI, 1996.
  7. Clive Ponting, A Green History of the World. The Environment and the Collapse of Great Civilizations, New York, Penguin Books, 1991.
  8. Ronald Wright, Breve História do Progresso, tradução José Couto Nogueira, Lisboa, Edições Dom Quixote, 2006.
  9. Patrick Gardiner, Teorias da História, tradução e prefácio de Vítor Matos e Sá, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1974. Esta obra contém excertos que os alunos poderão usar para tarefas práticas. S autores recomendados são os seguintes: Vico; Kant, Herder, Condorcet, Hegel, Comte, Marx, Spengler e Toynbee.
  10. No sítio do docente www.viriatosoromenho-marques.com na secção TEXTOS DE APOIO RESERVADOS A ALUNOS, os alunos poderão descarregar os textos directamente ligados com o curso de Filosofia da História: texto n,º 12 e textos do n.º 30 ao número 44, inclusive.

 

Sobre a Avaliação

 

> A avaliação deverá ser baseada no trabalho regular do aluno. O que a avaliação pretende aferir é a sua capacidade de trabalho e investigação, bem como as suas competências na identificação crítica de uma problemática e no seu desenvolvimento escrito ou oral.

> Aumentará, portanto, o tempo lectivo em que os alunos terão um papel decisivo, através de diferentes formas, activas, e interactivas de trabalho nas aulas.

> Aumentará também o tempo dedicado pelo docente a apoiar o trabalho dos alunos: esse apoio será efectuado em parte dos tempos lectivos, mas também no tempo dedicado à recepção de alunos.

> Para além da frequência das aulas, cada aluno deverá dedicar à disciplina um mínimo de 3-4h semanais, de forma continuada.

> A disciplina está organizada de um modo que não permite recuperações de última hora.

> Para a avaliação ser possível os alunos têm de cumprir todos os elementos integrantes da avaliação.

> O plágio de autores e textos em qualquer suporte (papel, electrónico, áudio, etc.) equivale a reprovação na disciplina. O aluno deverá, por isso, assinar uma Declaração Autoral assumindo a plena autenticidade dos seus trabalhos.

> O trabalho do aluno concretiza-se num dossiê da disciplina que será apresentado no final do semestre ao docente. Esse dossiê deverá conter os seguintes elementos:

1-Os textos de leitura obrigatória [que não se destinam a ser apresentados ao docente].

2-Os sumários das aulas [que não se destinam a ser apresentados ao docente].

3-As notas pessoais das aulas [cuja apresentação ao docente é facultativa].

4-Os contributos individuais para os trabalhos de grupo apresentados nas aulas.

5-Trabalhos que o docente vá indicando aos alunos, ao longo do tempo lectivo.

6-Fichas de leitura individuais sobre os textos de leitura obrigatória (e outros, que o aluno tenha escolhido de forma justificada).

7-Relatório final individual sobre a disciplina, com a indicação dos pontos fracos e fortes, potencialidades e fragilidades que o aluno encontrou no seu percurso ao longo do labor lectivo.

Nota: Os alunos poderão trabalhar individualmente, ou em grupos de dois para discussão e ajuda mútua, preparação de intervenções nas aulas práticas, etc.

 

Avaliação: ponderação final

 

  • Os elementos que entram na composição global da avaliação são os seguintes:
  • Qualidade dos materiais de avaliação contínua contidos no dossiê (25%).
  • Teste presencial sobre as matérias do programa (50%)
  • Qualidade da intervenção participativa nas aulas (25%). Os 14 textos assinalados a negrito e sublinhado são sugestões do docente para eventuais apresentações orais dos discentes nas aulas.
  • Em caso de necessidade, o docente poderá combinar com todos ou alguns alunos uma entrevista final.

 

Observações finais

 

O docente disponibiliza aos alunos 2h semanais de atendimento e completa abertura para comunicação electrónica. A bibliografia de trabalho da disciplina, assim como outros elementos de informação fundamentais encontram-se acessíveis no sítio electrónico: www.viriatosoromenho-marques.com. Seria conveniente, por parte dos discentes, uma capacidade razoável de acesso a textos de língua inglesa e francesa.